Ponta Solta

                     [Você pode ler esse texto ao som: Lay Me Down - Sam Smith ]


Era um daqueles dias que você chega tão cansada do trabalho, que a única coisa que você deseja é a sua cama. Eu sabia que na verdade tudo não passaria de mais um texto bonito ao decorrer desses anos, por sinal naquela noite eu havia encontrado todos. Encontrei junto com minha vontade de te mandar a merda mas o perigo de mandar para lá, é que posso ter uma recaída e ir pra lá te buscar. Na realidade, eu não consigo ter um pingo de raiva de você, já te disse? 

Talvez você não se lembre da nossa promessa de se encontrar 10 anos depois, mas me deparei com um email de 2010 onde eu falava que eu queria cumprir aquela promessa que fizemos três anos atrás, porque muita coisa ia ter acontecido e eu queria te ver nem que fosse para dizer: "E aí, como anda a vida?"
E nós fizemos isso. Cumprimos a nossa promessa.
Fiquei parada lendo até que no final me deparo dizendo o quanto te admirava e desejava que você fosse muito feliz. Era 2010, mas poderia ser de hoje mesmo.
Não caberia depois de tanto tempo te dizer alguma coisa, porque na verdade nem sei ao certo o que dizer. Nossos caminhos hoje são diferentes, e mesmo estando tudo bem para mim, sigo meu caminho torcendo para te encontrar de novo numa dessas curvas que a vida dá, esperando para que numa dessas vezes eu finalmente crie coragem de contar tudo que tenho para falar.
No fim das contas aquele escritor que gosto tem toda razão, quando deixamos pontas de amores antigos soltas elas voltam e te atravessam, e você sempre vai me revirar e atravessar por inteira.

Você só está tentando se salvar

Ouvindo: Pabllo Vittar - Indestrutível

Todo mundo tem dias que são uma merda. Dias aqueles que ter esquecido o cartão transporte numa manhã chuvosa de segunda é fichinha perto da avalanche que vem na sua vida. É claro, você pode ter passado muitas coisas e essa será apenas mais uma fase, mas você tem até medo de dizer que essa está sendo uma das piores, porque a vida tem sido tão vadia que sempre arruma uma forma de se renovar e mostrar que pode piorar. Você não reclama, mas também não se cala, e saí respirando fundo pra ver se oxigena mais que os pulmões e dá um ar pra vida. A sua vontade é de dormir até tudo isso passar mas a insônia alimenta a raiva que te faz querer pegar um porrete e quebrar tudo que vê, ao som do seu mais profundo grito. 
Eu sei, seu peito dói e antes fosse metaforicamente, parece que tem algo prensando seu tórax e você mal sabe se é seu grito preso ou sua forma de agir dizendo que tá tudo bem. 
E tá tudo bem dizer que tá tudo uma zorra, que nada no seu quebra cabeça da vida se encaixa e as poucas peças que te davam forças pra continuar jogando se perderam em algum lugar. 
Tá tudo bem admitir que sua vontade é de mandar meio mundo pra puta que pariu e quebrar três ripas no soco. Tá tudo bem surtar pra tentar não enlouquecer.
Tudo vai ficar bem. Você só está tentando se salvar. 


Você chegou mas eu fui



Achei que logo depois de você voltar, voltaria tudo junto como sempre foi. Mas não. Não veio o coração pulsando mais rápido, nem a emoção, nem aquele sentimento de quando tinha 15 anos que sempre chegava, nem nada. Mas chegou um pouco de raiva, talvez pelo fato de você ir e achar que tudo será igual ao voltar. Mas você sempre volta, não é?
Você voltou, mas eu havia ido. 
Nesse meio tempo, mudou tanta coisa, e eu juro, tentei ao máximo segurar, mas de repente a vida já tinha levado. Aquele eu foi, e eu cheguei. Eu cheguei mas vi o esforço que ela fez pra ficar, pra resistir, mas a vida acontece, e assim como muda as estações e as músicas na rádio, eu cheguei e fui reorganizando este espaço.

Ela sentiu saudade, ela quis voltar mas não existe um trem que leve ao momento exato do passado não é? Antes de eu chegar, ela lembrou daquele texto, aquele que a quilômetros de distância você pareceu ouvir e a salvou, e antes de sair ela quebrou aquela promessa. Cheguei e não pedi socorro, porque não há o que salvar. E você voltou. Chegou cumprindo a promessa. Eu te encontro, mas sou tão outra que mesmo exigindo da memória não sei como era, e me afasto. Talvez a que foi, diria que mais uma vez eu te afasto, mas eu... eu... não há o que afastar o que não estava perto.
Caminhei todas as ruas mas não sabia como chegar aqui, e não há GPS que localize aquilo que não há mais. Aprendi a me despedir com respeito de quem fui e do que vivi. Seja no passado ou no presente, de você, ficou carinho. De você ficou um sentimento bonito. De você ficou aquele sentimento, que depois de você os outros seriam apenas os outros. E foram. Você cumpriu a promessa. Você voltou. Mas eu vou. Obrigada por voltar, e me lem
brar de coisas bonitas. Desculpa por sair assim, mas se o Universo quiser a gente ainda se cruza. Tantas pessoas passaram por nossas vidas, e continuamos nos cruzamos tantas vezes, né? 

Foi bom poder me despedir. Se cuida.

O terceiro dia da semana


É terça e eu estou esgotada. Emocionalmente, psicologicamente, fisicamente e todos os "mentes" que há nessa dimensão e talvez, até em outra. Tanta coisa há tempos acontecendo, tanta coisa me sufocando e se há algum organizador de problemas no Aliexpress, não consegui encontrar. Enquanto as palavras é divisor de águas  me auxiliando colocar a bagunça em ordem, em contrapartida o poder que as palavras tem me dá medo e aí vem o receio de escrever uma virgula se quer. 
A vida é tão doida e muitas vezes acho que me perdi nesta rota e tento procurar onde dá pra encaixar e voltar pro circulo, porém acho injusto falar de qualquer coisa pois parece que estou a reclamar e há muito a se agradecer. É terça e eu fecho os olhos, escuto essa música e só quero aquela sensação de quando se viaja a noite e lá pelas tantas da madrugada você acorda e vê o sol despertar entre aquelas paisagens, e a sensação é de que todo problema ficou para trás e você respira sereno. 
É terça e essa música me trás de volta a sensação de quando era criança e a ouvia. Sinto a sensação de estar em New York sem mesmo ter colocado os pés lá. A gente cresce e a vida começa a ser um tanto quanto bruta com a gente, e aí meu amigo, não tem ninguém pra levar a bordoada por você. 
É terça, e eu só quero que a semana seja leve. Que a vida seja mais bondosa e bonita comigo. Utilizo o poder das palavras e escrevo: V-A-I  S-E-R! A VIDA VAI SER MAIS BONITA E BONDOSA COMIGO. CONOSCO. VAI SER. JÁ É.

É terça-feira, meu bem... E enquanto chove lá fora, eu resisto aqui dentro.



Me rasguei por inteira

[Você pode ler ao som Destiny's Child -Emotion]

Confesso que em boa parte do percurso fui muito bem, mas aí não sei em que parte do caminho atolei meu carro e descobri que para mim, rally não é tão fácil.  Faço cara de boa motorista, mas na verdade sou novata demais nesse esporte.
Tem como não termos nenhum compromisso, mas nos comprometermos só eu e você? 

E por mais que eu mesma tenha batido o pé pra assegurar que todas as vias do não-compromisso seriam assinadas, hoje não estou conseguindo me desapegar do nosso apego.
Foi bom ter o seu sorriso, te achar um tanto quanto idiota e definitivamente tão lindo. Por mais que eu saiba que a geografia não nos ajuda e assim é a única maneira de nos protegermos de seus danos sem nos perdermos, as vezes as coisas se confundem em mim.
Pensando em tudo isso, só sei que assim está bom e me contradigo inteira. Desculpa, mas eu ainda não aprendi. Ou desaprendi?


Na realidade, bateu saudade e só quero te agradecer. Na verdade nos agradecer, por tudo intensamente vivido. Fala sério, num tem umas saudades que são tão boas que chega acalentar o coração? Então. 

Eu voltei, mas não a mesma.
Estava tudo tão feio, você me fez sorrir e foi me mostrando um céu azul tão lindo por trás de dias nublados. Tudo se transformou.

 E assim como a lagarta se transforma em borboleta, eu também me rasguei por inteira


Janeiro jamais será, apenas janeiro

                                     [Você pode ler este texto ao som de Samo - En Cambio No]

Peguei o celular pra te ligar, andei a casa toda com ele na mão mas incrivelmente, parece que discar os números que me conectam a você é mais difícil do que atravessar a cidade nessa chuva forte. Queria te contar do meu sonho bom essa noite. Foi com você e tão real. Real do jeito que as coisas tem que ser, como você é, e porque me parecia ser muito real. Você estava aqui. 
Você sorria daquele jeito tão bonito que me faz esquecer que às vezes a vida é tão dura com a gente, andava pela casa com a cara fechada cheio de silêncio que me faz ver a realidade, desconstruindo meus paradigmas de romances perfeitos.  Falava tão "despacio" me fazendo ver que quando há carinho, sempre haverá calma e tranquilidade. Me fazia feliz por ser real. Mas nesta noite, foi apenas um sonho. É janeiro, e a saudade me abraçou. 

Janeiro jamais será, apenas janeiro. Será risos, será olhares, será felicidade, será liberdade, será força, será fé, será Amor. Será saudade. Muita saudade. 
Eu queria te ligar pra contar do sonho, pra dizer a sensação boa que foi acordar depois de tanto tempo de um sonho que parecia ser tão real, mas o desconcerto foi grande ao ver que era apenas uma manhã de janeiro chuvosa. Deu nos jornais hoje que antes dessa chuva tão forte, só teve uma similar em 2012, ano tal que foi ótimo pra mim. Coincidência? Espero que não.

Sabe eu sentei no chão, pensando em tudo isso e olhando no celular, repassando cada detalhe, cada palavra, cada pedaço meu que sempre vai desencaixar em janeiro, enquanto não surgir um novo janeiro ou outro mês pra encaixar tudo isso, e não saber isso me agonia mais que aeroporto fechado com voo marcado. Por sinal, hoje o aeroporto fechou aqui.

É que no final, a vida às vezes é tão difícil, tão pesada como um dia chuvoso como esse, que saber que será apenas um dia de chuva, sem voos atrasados e acasos felizes, faz a tormenta passar de fora para dentro. 
Não te ligo. Ao invés disso, tomo um banho quente e abro um vinho daí, na esperança de quando fevereiro chegar, ter aquele mesmo gosto que transcende a paz. Pra ter aquela mesma frase de Caio outra vez, que diz que certas coisas são tão evidentes, apesar de inexplicáveis, que a gente não pode deixar de acreditar.