Apenas uma rua

23:27 Renata Kawane 0 Comments

                                   [Ouvindo algo bem ali]

Depois de muito tempo sem caminhar por aquela rua estava preocupada como seria. Eu tive uma casa naquela rua. Depois de um tempo pagando aluguel, resolvi que estava na hora de ter a casa própria, me dediquei a escolha dos móveis, pintei, ajeitei, lutei para ajeitar todas as burocracias que se tem para ter uma casa, enfim estava feliz, e ela tinha sido local de fatos marcantes, mas também foi de onde muito encanamento estorou, telhas quebraram, pintura descascou, e de onde brotou muita dor, por isso eu sempre evitava passar por lá, desviava o caminho, mudava a rota, pegava um avião e passava por cima. 
Claramente aceitei o convite para aquela festa, estava numa nova fase, muitas coisas novas acontecendo e esta festa inauguraria bem essa nova etapa. Aceitei sem saber o endereço, sem pensar em endereço, porque afinal, quem pensa em endereços quando a vontade é de somente ir?

Dias antes da festa, chegando em casa logo após o trabalho, fui checar meu email e recebi a comunicação de que meu nome já constava  na lista de presença e sendo assim, seguia anexo o endereço.  Ao olhar aquelas letras meu corpo se imobilizou e entrou num pequeno estado de choque ao ver que elas traçavam um caminho antigo evitado de ser percorrido. E depois de tantos depois, de ir, de nem imaginar, eu voltaria aquela rua. Naquela justa rua. Fiquei na dúvida se abria um vinho ou tomava uma ducha quente, afinal depois de um longo dia frio, uma notícia congelante, nada melhor que aquecer o corpo pra tentar ativar a mente.  Os dias foram se passando e a dúvida brotava em cada espaço vago da mente, eis que já não sabia bem o que fazer, pois afinal por mais bem digerido que foi, não há omeprazol que dê jeito nas azias da vida. Eis que chegou o dia, a hora, e lá fui eu. 

Quando diminui a velocidade e engatei a segunda marcha para virar a esquina e entrar naquela rua, confesso que meu coração deu um leve descompasso, pois não sabia o que esperar. Estacionei o carro, desci, e eis que lá estava aquela casa. Meus olhos passaram rapidamente pela casa e  foi como não houvesse nada demais, adentrei a festa, tomei algo e dancei, como dancei. Noite a dentro, quase madrugada sentei numa mesa cheia de pessoas, gargalhei, ri e havia me esquecido onde estava, eis que me lembraram. Com um ar de desconforto para falar, alguém da mesa questiona sobre a localização da realização da festa, e se eu havia bebido demais ou estava mesmo gostando da festa, porque todos ao me olhar me acharam radiante demais naquela festa, e não sabiam se era verdade ou o álcool. Respondi, achando o máximo, aquilo tudo. Eu apenas tomei suco, e naquele momento, também um punhado de gratidão por Deus, pois a luz escura de arrependimento pela compra mal feita havia sumido de mim. Eis que  me dei conta naquele momento que tudo voltou a ser completamente luz. 

No final das contas, me dei conta que aquela rua não me causava mais desconforto algum. Confesso que sorri, cada espacinho meu sorriu. De repente eu estava num cantinho da festa agradecendo a Deus, o Universo, porque cada pedacinho meu sorria, e fazia a festa. Eu estava em festa. Na saída passei pela casa, e me dei conta que aquela casa, se localizava numa rua esburacada, num conjunto habitacional, nada contra... Se eu tiver que passar por aquela rua passarei, mas eu prefiro evitar toda aquela poluição que tem por ali. Cheguei em casa, carregando os sapatos na mão, pois quando a dança machucou meus pés os arranquei e continuei a dançar. 
Aquela rua, era oficialmente, apenas mais uma rua. 

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