Formosura

16:50 Renata Kawane 0 Comments

E tudo corria como um dia normal, tirando pela neblina que cobria totalmente a cidade e, o fato de eu não estar atrasada.

Respirava!

Sem nenhum tropeço, quase tombo entro no ônibus como um trem na linha.
Sento ao lado de uma senhora que de tão simpática que era, só seu olhar vindo com aquele
sorriso alegre já transmitia uma educação inesperada para aquela hora da manhã.

Mal sabíamos que em poucos minutos, nos tornaríamos desconhecidas pouco conhecidas.

O ônibus para, ele entra: Formosura!

Mordo os lábios num movimento meio mecanizado, de tão espontâneo, a senhora ao lado segura as mãos, as entrelaçam como se tivessem transpirando sem parar.

Ele vai procurando um lugar, para acomodar tanta formosura, ele anda, se encaixa, pede desculpa pelo incomodo, sorri.

A senhora ao lado, olha tentando evitar, mas a formosura é muita. Ela se desconserta, só de olhar!

Começo a pensar que os homens da idade dela, devem ser estilo 'Hollywood Paraguaio'. Imagino ela no baile da terceira idade, mas logo esqueço, ela não era tão velha assim.
Penso porque tanta controversia numa pessoa como ela, só por causa do formosura, sendo que ela teria um amor daqueles que levam  pra dançar, querem conhecer sua família, e surpreende sempre com um ato "pateticamente" (assim nomeado pela sociedade) chamado: romantismo. Mas era o formosura, não tinha como evitar. Eu há entendia!

Formosura, de repente nos olha e sorri. Sorri sem motivo, dizendo bom dia, mostrando sua formosura.

Retribuímos o sorriso, com aquele ar babão, empolgado que criança faz quando vê pela primeira vez teatrinho de marionetes.

E o formosura, exala formosura pelo ar. E a gente sente!

Eu e a senhora nos olhamos, e trocamos aqueles sorrisos amarelos quase dizendo: Desculpa o descontrole, mas é muita formosura!

E nós nos seguramos, olhamos para outros lados, tentamos perder o foco!

Novamente ela o olha. E um calor desconhecido brota, ela abre a janela, eu a entendo, e por entender compartilho sua menopausa!

Formosura chega perto.

Ela parece rezar, eu a ajudo via pensamento! Compartilho a oração!

Olho ao meu redor, e vejo todas as mulheres daquele ônibus, num estado de êstaxe, o mesmo estado que eu, a senhora, e a da guria de aparentemente 7 anos que olhava o formosura como o tal príncipe encantado dos filmes das princesas da Disney, que empobreceu um pouco e resolveu pegar onibus. Era um momento mágico, onde todas aquelas mulheres pareciam estar todas de mãos dadas, agradecendo a Deus por tamanha formosura criada!

Estávamos chegando perto do terminal, fim da linha, game over, adeus formosura!

Ele desce ...
Até nunca mais formosura! - Eu quase grito.
O efeito acaba, as mulheres são tomadas de um sentimento estranho.  Raiva, talvez.


O telefone de uma toca, e ao olhar o celular desliga,  fica brava, talvez ela estivesse pensando porque não é o formosura, ligando.
A guria fica brava porque o rapaz do foninho a ajuda com sua bolsa de rodinha, talvez ela estivesse pensando porque não é o formosura, ajudando.

A senhora e eu, respiramos, num ar de quem não espera nada, e por não esperar nada, não fomos tomadas
pelo ar enfurecedor.
Sorrimos uma pra outra, um sorriso de leve alivio, suspiro, quase dizendo: Sobrevivemos!

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